O Aeroporto Leite Lopes e as mentes (interioranas)

Estimados amigos,

O Aeroporto Leite Lopes está em seu lugar desde 1932. Eram antes duas pistas que se cruzavam, para aproveitar melhor o vento, uma no sentido Leste-Oeste, e a outra no sentido Norte-Sul, a que ficou, com as cabeceiras 18 e 36. Em uma área de aeródromo de aproximadamente 200 alqueires, o Aeroporto Leite Lopes, importante nas décadas de 1940, 1950, 1960, pois era ponte entre a capital São Paulo, e outros grandes centros urbanos como Ribeirão Preto, Uberaba, Goiânia. Alguns voos levavam também ao Estado do Mato Grosso. Voavam pelos nossos céus, aeronaves DC-3, DC-4, Convair. As empresas aéreas eram a VASP, a REAL. Aeroportos como o Leite Lopes, que serviam rotas interioranas, viram a sua importância declinar com a construção de rodovias. Por vinte anos ou mais, a partir do final dos anos de 1970, o Aeroporto Leite Lopes era somente uma pista de pouso alternativa, mesmo porque era possível abastecer aeronaves com motores a pistão, que utilizam gasolina. As aeronaves turbohélice, e os jatos queimam querosene.

Com a mudança do perfil das aeronaves, passando a ocorrer mais aeronaves a jato, passou-se também a oferecer-se no Aeroporto Leite Lopes, combustível para elas. Tudo pela iniciativa privada. O Aero Clube de Riberão Preto, que opera no local desde os anos de 1930, passou a ter, ao lado de empresas como a Aeromec, e a J.A. Aviação Agrícola, a companhia de mais aeronaves modernas, com seus possantes motores a reação.

Mas, realmente, durante a maior parte dos dias, a exceção de um ou outro voo, o local era calmo, e as corujas e os quero-queros continuaram placidamente vigiando os seus ninhos na grama, expulsando intrusos, lista essa incluia cachorros vadios, gatos, mecânicos, pilotos, e andando, petulantes, por entre as aeronaves estacionadas.

No final dos anos de 1990 houve uma aceleração nos negócios da aviação, inclusive em Ribeirão Preto, o que propiciou a vinda de empresas de transporte aéreo além da TAM, a qual operava em voos regulares desde há alguns anos.

De um momento em diante, começaram a ocorrer surtos de altas nos negócios, sazonais, sendo que a estabilidade da moeda, os preços convidativos tornaram interessantes os deslocamentos aéreos em detrimento aos ônibus e automóveis. Passou a haver novamente o esplendor de décadas passadas.

Nesse momento, contudo, foi possível perceber que, o aeroporto, tão afastado da cidade, estava agora imerso, cercado pela cidade. No início dos anos de 1980, foi inaugurado o Bairro Quintino Facci, construído mesmo na linha da pista, em sua cabeceira 18, Norte, limitando-a com a Avenida Brasil, e ao Sul, cabeceira 36, passou a existir a Avenida Thomaz Alberto Whatelly. Conheço bem a pista do Aeroporto Leite Lopes. Como aluno do curso de pilotagem em meados dos anos de 1980, inúmeras vezes decolamos e pousamos na mesma. A aproximação pela cabeceira 18 é crítica, pois durante todo o tempo estamos sobrevoando um bairro de grande densidade populacional. Um descuído, e as consequências podem ser graves.

A cabeceira 36, Sul, tem um padrão de aproximação diferente da cabeceira 18, haviam ainda muitos espaços vazios, mas a especulação imobiliária também criou inúmeros bairros no eixo da pista.

Com um bairro, Quintino Facci, implantado há 30 anos de um lado, poderia, ao exemplo do que ocorre em outros lugares do mundo, estender-se a pista no sentido Sul, passando por sobre a Avenida Thomaz Alberto Whatelly, propiciando que os veículos terrestres trafegassem por sob a pista de pouso, em uma cara e maravilhosa obra de engenharia, fazendo com que a pista atual ganhasse mais comprimento, adentrando os terrenos da Hípica, e, transformando os atuais 2100 metros em algo entorno de 3000 metros ou um pouco mais, com a aproximação preferencial pela cabeceira 36, aproveitando o melhor vento no momento, e propiciando a utilização de aeronaves de grande porte. Fora, claro, o reforço no piso para suportar solicitações de carga muito mais intensas.

Acredito que esteja nessa questão a viabilidade ou não de ampliar-se o Aeroporto Leite Lopes, transformando-o em uma alternativa para voos internacionais, que saturam o aeroporto de Campinas e os aeroportos de São Paulo: custos!

O Estado desapropria baseado no interesse social. O setor privado deve adquirir ao preço de mercado, por vezes muito inflacionado quando as obras e os interesses financeiros são de grande vulto.

A EMBRAER, um dos bem sucedidos exemplos de privatização de empresas estatais, com o interesse de construir uma pista de testes para todo o tipo de aeronaves, saiu da congestionada São José dos Campos, e veio até Gavião Peixoto, pequena cidade da região de Araraquara. Adquiriu as terras, 736 alqueires, e construiu uma pista com 7 quilômetros de extensão a qual é solicitada por fabricantes de várias outras partes do mundo para testes de suas aeronaves. Estão sendo realizados atualmente em Gavião Peixoto, testes de motores a reação com a queima de querosene de cana como combustível.

Portanto, antes de favorecer um ou outro interesse político, entre ampliar, com dinheiro público, a pista do Aeroporto Leite Lopes, para depois entregá-lo a iniciativa privada, é sabido que essa maneira não interessa muito ao capital privado.

As empresas aéreas não vão cotizar-se para a ampliação de um espaço, o qual, sempre, poderá voltar para a gestão pública. É mais mais exequível, economicamente, pagar aluguel pelo uso, como já fazem.

As distâncias em aviação são muito diferentes daquelas para os veículos terrestres. Duzentos quilômetros são alguns minutos de voo para determinadas aeronaves.

Podem as empresas aéreas acreditarem muito mais viável a construção de um aeroporto, com menores custos, em outra área qualquer, em municípios da região, como o fez a EMBRAER, saindo dos altos custos e limites técnicos de uma pista construída na Grande São Paulo. Levando-se em conta questões de LOGÍSTICA, essa centro nevrálgico de sistemas de transportes.

Enquanto isso, em um cidade a qual não possui nem sequer placas indicando a localização do Aeroporto Leite Lopes, e isso é histórico, discute-se em gabinetes ações as quais parecem escapar totalmente do conhecimento do poder público.

Um abraço a todos,

Aristide Marchetti

Rabiscos57

Autor e Editor

Sou aquariano, de janeiro de l957. Bacharel em Direito, atualmente leciono em escola pública. Possuo especialização em Educação, e periódicamente reciclo meus conhecimentos junto a outra área que é a Psicologia. A atração por aviões vem dos tempos de infância. Durante muitos anos frequentei o aeroclube local e obtive muitos conhecimentos práticos junto as oficínas lá existentes. Busquei conhecer aerodinâmica, estrutura, motores, e também um brevê nos anos 80. Interessei-me em desenvolver uma aeronave ultraleve de baixo custo, naquilo de denomino de "vôo possível". Estou a desenvolver essa idéia desde l993. Acredito estar próximo de conseguir esse intento. Sou um construtor autodidata, preocupado com segurança, leveza, baixo custo, e se possível, beleza. O funcional vem antes do design, mas a forma e a ergonomia é preocupação constante de nossa parte.

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